2.

O tempo está cinza e nublado. Abro os olhos e claridade me incomoda. Ao me mexer sinto as dores de sempre, diárias. Olho o teto e deixo o pensamento divagar nos últimos oito meses e me vejo combatendo a apatia, a procrastinação, o labirinto em que me encontro, depois da mudança total. Não quero avançar para encontrar a saída, porque estou muito cansada, fraca, trêmula. Paro, só tenho o desejo de ouvir o silêncio, acalmar a mente barulhenta. 

O pânico e a tristeza já não são fortes, mas ainda não reencontrei motivação para seguir. Ao redor tudo está fora de lugar, literalmente e dentro mim, acontece a mesma coisa. Sim, tenho todas as ferramentas para fazê-lo e dar o melhor de mim, mas me perdi. Onde estou? Por que parei de avançar?

Meu corpo pede pausa, pede ajuda. Tento cuidar de mim, mas há dias que só me contento em ficar imóvel, pois é muito doloroso me mover. Os filmes e séries me deixam longe das coisas que não posso controlar, como o desamor, a ingratidão, a desconfiança, as más atitudes, o medo de amar das pessoas. Observo os filmes e busco refletir, encontro situações iguais às minhas e a minha vida passa diante dos meus olhos, posso ouvir a trilha sonora perfeitamente. 

Já não tenho lágrimas, só o profundo vazio de alguém que se sente invisível. Desde menina me sinto fora de lugar, estranha e terrivelmente sensível. Jamais consegui ser entendida pelas pessoas do meu convívio; isso até mudou um pouquinho atualmente. Quando eu explicava o meu sentir, tudo piorava e ouvia dizerem ser bobagem da minha fértil imaginação. Muitas perdas que deixei pelo caminho já não me doem mais. Mas as cicatrizes estão lá e me mostram a coragem que nem imaginava ter.

Não me reconheço como a pessoa do passado e agora a minha invisibilidade é diferente. Pois, sim, a experiência e a maturidade me trouxe mais 'olhos de ver', outro olhar reflexivo. Você é enigmática, exótica? Não sei, só sinto coisas que a maioria não sente e um profundo senso de dar certo na realidade. 

Ah, os sonhos... eles surgem tanto de olhos abertos ou fechados, em qualquer lugar no meu eterno suspirar de esperança. Aí o sorriso surge; aquele sorriso especial. Vejo um olhar carinhoso, sereno, transparente, com um quê de tristeza, mas eles me acalmam e me acariciam sem pressa. Os sussurros me arrepiam e me perco inteira num louco e apaixonado turbelinho de emoções. 





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